ZesToria 2: LÚCIA, A OUVINTE

15/05/2020

Senta aí que lá vem uma ZesToria:

Era uma vez Lúcia, mulher de seus 28 anos, casada, mãe de dois filhos que de tão educados, arrancavam elogios. Ela tinha a vida perfeita. Aos olhos dos outros era "feliz".

Seus amigos sempre a procuravam pois sabiam que era a única que os ouviria. Realmente fazia isso como ninguém. Sua habilidade de ouvinte a tornara uma grande amiga. Geralmente não dava conselhos, por ser ouvinte não lhe cabia intromissão na vida dos contadores de caso. A ela bastava ouvir. Eles são satisfeitos com sua função de amiga.

Mas Lúcia tinha seus fardos como qualquer ser humano, pena que os outros não enxergavam isso. Ela também queria ser ouvida. As vezes tentava conversar com seus contadores, mas estes egoístas como eram, não lhe davam ouvidos. Alguns chegavam a debochar porque ela?!, logo ela, tinha problemas?! Sua vida era perfeita.

É claro que não contava a todos os seus casos. Primeiro fazia listas mentais para ver em quem poderia confiar. Após isso enquanto a pessoa vinha lhe contar seus problemas, tentava falar dos seus. Porém faziam pouco caso, alguns pegavam seus desabafos e tomavam para si, excluindo dela suas dores. Isso a deixava mal.

Pensava: "como eles não eram capazes de enxergar que também tinha dores. Que não existe vida perfeita". Então escrevia em seu diário coisas pessoais. Nele podia desabafar sobre ela, sobre seus contadores de caso, sobre suas coisas sem ser interrompida, sem ter suas dores usurpadas. Era seu refúgio. Nas linhas deste, seu profundo ser estava descrito. Talvez se lessem não gostassem do que estava transcrito.

Quantas vezes se fez de burra para não ofender. Quantas não foram as vezes que calada ficava, pois achava a história ouvida uma chatice. Mas ela desempenhava bem seu papel de ouvinte. O diário era uma maneira de não absorver para si os problemas alheios e viver sua vida.

Mas o que isso tem a ver conosco?! Tudo e nada.

Podemos estar sendo Lúcia?!

Ou possamos ser seus amigos tão egoístas que só sabem falar de si mesmos. Quem você é?! Quem eu sou?! Lúcia?! Amigos dela?!

Não sei você, mas será que geralmente não preferimos ser somente os contadores de caso?!

É mais fácil não?!


DIEGO ALRAIS

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